terça-feira, 5 de maio de 2009

Resumo do III Seminário (23.04.09) – Flavya Mutran

A arte enquanto experiência estética e sensória entre artistas e o público, e os processos artísticos como método de pesquisa foram os temas principais do III Seminário sobre Criação Artística e Regimes Visuais da disciplina Metodologia da pesquisa em Artes, de Ma. Amélia Bulhões para a turma de Mestrado 17 no IA/UFRGS. Ao questionar ‘Otro mundo es posible ¿Qué puede el arte?’, a professora Aurora Polanco[1] desenvolve uma série de reflexões sobre a relação entre informação e imagem, recepção e compartilhamento social através da arte, quando, após os anos 1960, esta passou a ser pensada não só em termos de evento, mas de ação, de práxis. Embora nossa relação com a arte esteja permeada de contatos midiáticos, a autora aponta para a necessidade de se expandir a superfície da imagem para um novo canal de fruição que não esteja restrito à informação ou a fantasmagoria anestésica muitas vezes imposta por uma relação superficial entre espectador e obra. Polanco fala sobre a necessidade de contemplação da imagem em superfície de forma expandida, dentro de outra perspectiva não idealista, diferente da busca por uma investigação desconfiada sobre as ‘reais’ significações veladas circunscritas à imagem.
Citando vários autores em seu texto[2], Polanco afirma que imagens são meios de comunicação e compartilhamento social, mas as formas e o tempo de contemplação para a arte mudam em duração e qualidade a partir da atenção do espectador. Entre os principais pontos discutidos sobre o texto de Polanco, o debate girou em torno da concepção de recepção que a autora trata no artigo, quando afirma que a arte ajuda a fazer pensar, e os artistas muitas vezes não estão conscientes da importância da recepção dentro deste processo de mediação entre o espectador e a obra. Captar ou reter a atenção do espectador depende de estratégias adotadas pelos artistas que combinem distração e percepção partilhadas de forma expandida e prolongada.
É pelo viés da criação artística e os mais diversificados recursos comunicativos entre o artista e o público que o pesquisador Marcos Rizolli[3] propõe pensar a arte e sua natureza interdisciplinar. Para este autor, a criação artística deve ser compreendida como uma multitarefa em que o artista, enquanto cria, se envolve com toda sorte de conhecimentos, agindo ao mesmo tempo com ampla subjetividade e objetividade determinadas pelas escolhas de caminhos técnicos e racionais. Para exemplificar o caráter interdisciplinar do fenômeno da criação artística, Rizolli cita a metodologia de pesquisa e trabalho de três artistas paradigmáticos: Leonardo da Vinci, Marcel Duchamp e Joseph Beuys. De períodos e contextos diferentes, cada artista encontrou no seu método de criação maneiras de abordar as questões do seu tempo.
Para Leonardo Da Vinci a comunicação entre a natureza e a arte correspondia à representação de um prioritário objeto-lei: o olhar, e é no quadro que se estabelece um sistema de relações visuais em que ele (o olhar) é, na realidade, um intermediador do intelecto com o mundo. Já para Duchamp, o interesse estava em decifrar o mundo por intermédio do cotidiano, transformando a arte numa ação direta do pensamento e da sensibilidade. Seu interesse voltava-se para a materialidade da arte e a mais absoluta liberdade expressiva para lidar com a maneira com que o espectador se relacionava com as questões de representação a partir da obra. Diferentemente dos anteriores, Beuys partia da idéia de arte como evento, e a própria vida como experiência estética. Ao traçar uma resumida análise semiótica dos processos de criação desses três artistas, Rizolli afirma que
‘(...) a arte e o seu conhecimento semiótico são traduzidos em atitudes interdisciplinares que, do todo às partes e das partes ao todo, forma um universo paralelo de compreensão da existência humana – e que, às vezes, apresenta-se com tal legitimidade que ocupa o espaço do real: aqui e agora, na linguagem. [e conclui] objetivamente, em subjetividade, há algo no fenômeno artístico que jamais poderemos acessar. ‘ (RIZOLLI, p.06)
Complementares apesar de abordagens diferentes, Marcos Rizolli e Aurora Polanco analisam a relação entre artista, obra e espectador e seus mecanismos de conexão para tratar dos temas relacionados com o processo de criação da arte enquanto experiência sensória simbólica.

[1] POLANCO, Aurora. Outro mundo es posible. Que pude El Arte? Estúdios Visuales, V5, Madrid, CENDEAC, enero 2007.
[2] Entre outros a autora cita Susan Buck-Morss, Walter Benjamin, Georges Didi-Huberman:, Jacques Ranciére e Hannah Arendt.
[3] RIZOLLI, Marcos. A arte a sua natureza Interdisciplinar. In: 16º Encontro Nacional da ANPAP - Associação Nacional de Pesquisadores em Artes Plásticas, 2007, Florianópolis - SC. Anais do 16º Encontro Nacional da ANPAP, 2007.

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