quarta-feira, 15 de abril de 2009

Comentário seminário José Luis Brea e Walter Zanini

O presente trabalho gerado a partir do seminário proposto pela disciplina de metodologia da pesquisa em artes tem como objetivo traçar alguns paralelos entre os seguintes textos: Estética, Historia del Arte, Estudios Visuales escrito por José Luis Brea e Arte e História da Arte de Walter Zanini. O primeiro apresenta questões que dizem respeito aos Estudos Visuais onde Brea expõe esta disciplina como um aparato metodológico que tem o propósito de pensar as imagens e as suas imbricações através de diversas áreas que não estão restritas apenas a arte. Sob este viés cabe destacar que o autor possui uma formação contextualizada as escolas Européias cuja tradição das disciplinas de história da arte, estética e teoria se mostram calcadas no decorrer do tempo. Este fator faz com que haja a necessidade de propor estudos que atravessem o campo das artes e que de certa forma o problematize suspendendo conhecimentos pragmáticos anteriormente fixados. Esta especificidade do lugar onde o autor fala e se posiciona contrasta de forma contundente em relação à conformação do campo das Artes no Brasil, percebida através do texto escrito por Zanini, cuja delimitação se mostra recente e talvez até mesmo em processo de constituição.
Diante a problemática da ampliação do campo das Artes Brea propõe como ponto de investigação os estudos Visuais que apresentam uma metodologia que constrói seu objeto de investigação através do atravessamento de questões oriundas de diversas disciplinas Nesse sentido o autor lança alguns conceitos que levam ao seguinte questionamento: Qual seria a saída razoável para pensar os estudos visuais diante a ampliação do campo? Para Brea a idéia mais razoável de trabalhar a partir da produção de bens culturais seria aceitar “a ausência real de um corte epistêmico e a continuidade dos objetos e dos atos [...] “tomados enquanto práticas de produções culturais tidas a partir da constelação de disciplinas numa dinâmica de “cooperação-confrontação interdisciplinar” (BREA 2006, p.13). O objeto sob este viés interdisciplinar se mostra cada vez mais imbuído de questões sociais e simbólicas que de certa forma também se cruzam e problematizam tais proposições. Trata-se, de uma metodologia transdisplinar que ao ser aplicada diante da fluidez dos limites das áreas deve acarretar numa complexidade de questões de cunho político, social e antropológico.
A partir dessa concepção que coloca a cooperação entre as diferentes disciplinas podemos chegar à outra idéia que tangencia o que o autor denomina como sendo as novas humanidades. Pode-se pensar então sobre a presente questão: Quais os significados que estão imbuídos ao método das novas humanidades? As novas humanidades não se mostram como novas disciplinas, mas sim como ferramentas e procedimentos instrumentais para estudar determinado objeto. Este por sua vez ao estar fora do seu campo de atuação permite desmantelar criticamente seus paradigmas e propõe uma abertura que em certa medida acarreta em um olhar mais sensível acerca da questão da diversidade cultural e identitária.
Outra questão importante relacionada ás novas humanidades está atrelada a idéia de valor mnemônico. A importância no fato de revisitar o passado como uma procura arqueológica de camadas de significados está na forma com que ela se processa, ou seja, enquanto objeto de relativização de certezas. As tensões e os confrontos propostos pela atualização do passado vêm à superfície de forma visível e problematizada o que em certa medida suspende algumas certezas trazendo a tona suas fragilidades. Esta relação de atualizar o passado no presente através de seus confrontos e embates parece também se colocar como um instrumento metodológico bastante rico em relação aos estudos visuais.
O segundo texto intitulado Arte e História da Arte escrito por Zanini expõe através do percurso da implementação da disciplina de História da Arte na ECA (Escola de Comunicação e artes da USP) as dificuldades encontradas em relação a emancipação do campo das artes no Brasil. A partir dos dados levantados pelo autor podemos perceber que a história da arte passou por um tortuoso caminho e que embora tenha conquistado um patamar importante através dos cursos de pós graduação há ainda muito que fazer no que diz respeito a sua consolidação. Nesse sentido as idéias de questionamento dos limites da arte acarretam em dificuldades que tangem a constituição frágil desse sistema de produção e ensino visto que se mostra ainda em processo de consolidação.
Referências:
BREA, Jose L.. Estética, Historia de Arte, Estúdios Visuales, in Estúdios Visuales n.3 Madrid, CENDEAC, enero 2006.
ZANINI, Walter. Arte e Historia da Arte. Estudos avançados vol8 n.22 São Paulo, set/dec 1994 .





Comentário sobre 2º Seminário: em discussão Zanini[1] e Brea[2], por Carolina Rochefort

Comentário sobre 2º Seminário: em discussão Zanini[1] e Brea[2], por Carolina Rochefort

O comentário em questão pretende uma “costura” entre os presentes textos Arte e história da arte de autoria de Walter Zanini e Estética, Historia del arte, Estudos Visuales, de autoria de José Luis Brea, a partir das idéias e questionamentos abordados no 2º seminário desenvolvido na disciplina de Metodologia da Pesquisa em Arte, turma 17 do curso de Mestrado em Artes Visuais da UFRGS.
As discussões foram iniciadas por perguntas realizadas pelos alunos que tiveram como base os textos citados.
A relação central entre os textos esta na medida em que as abordagens apresentadas pelos autores trazem questões relativas às disciplinas tradicionais do campo da arte como a história da arte, a estética e os estudos visuais
[3]. Questões relativas aos produtores, teóricos, críticos, historiadores, pensadores que mobilizam essas disciplinas e as reorganizam dentro do campo artístico. Os textos ancoram fortemente a idéia de território, em diferentes épocas; o lugar, o espaço dessas tradicionais disciplinas que produzem significados e efeitos visuais tanto no Brasil quanto na Europa.
Essa situação é abordada por Walter Zanini, no Brasil, pela disciplina de história da arte dentro da USP. Segundo o autor seriam os professores Levy Strauss, Roger Bastide e Jean Maügué a trazer, nos anos 30, um impulso aos estudos da arte nas áreas da Faculdade de Filosofia, Ciência e Letras. Durante os próximos anos a disciplina foi acolhida por diversos cursos como Arquitetura e Urbanismo, junto ao departamento de História da Arquitetura e Estética do Projeto e a Escola de Comunicação. No final dos anos 60 o departamento de História implantou o curso de pós-graduação em História da Arte. Ainda hoje a disciplina não está alocada em um instituto de arte dentro da USP, e acabou ficando na ECA, servindo a diversas áreas e mantém-se sem a definição de seu próprio campo de graduação
[4].
Por esse caráter interdisciplinar Zanini comenta que se dentro do próprio campo da arte a disciplina ainda será muito exigida, e fora dele ela se fortalece por seu sentido universal.
Esse sentido universal e a perda de limites entre essas disciplinas são abordados intensamente por Brea. O autor discorre sobre os estudos visuais por um viés que discute as relações e cruzamentos entre as disciplinas tradicionais da produção artística. Segundo ele, os artistas, ao aplicarem sua metodologia, sua maneira de fazer, os meios e os conceitos, vêm buscando mediações cada vez mais ampliadas e diversificadas, abordando a reflexão e execução do objeto de forma interdisciplinar. É o desbordamiento dos limites.
Disciplinas tradicionais como a história da arte, a estética, a crítica e os “novos” estudos visuais, tendo em vista a extensão de seu campo, necessitam de metodologias transdisciplinares. Para tal é próprio repensar o lugar dessas disciplinas a partir do contexto atual, habitando o real com sua constelação de práticas e modos de fazer que gerem simbolismo e significado cultural. Como recurso de procedimento relativizar os paradigmas e visões de mundo que o produto, a produção propõem potencializando ao mesmo tempo.
O autor nomeia esses cruzamentos disciplinares de novas humanidades, as quais seriam recursos procedimentais, entendidas como ferramentas potencializadoras da crítica cultural.
Para Brea os estudos visuais se encontram em uma interzona um território compartilhado, agregatório e sem limite. Zona que produz, a partir de uma multiplicidade de focos, metodologias e articulações, um estado de ver carregado de significado e valor cultural. Assim que conforme o autor o lugar de ampliação e aprimoramento dessa prática e dessa forma de pensar encontra-se na universidade, que também assiste uma transformação: o capitalismo cognitivo, característico em sociedades do conhecimento. Na universidade, que é o lugar do ensino, da formação, também deve ser o lugar de possibilitar situações favoráveis para se pensar de maneira reflexiva e criadora as transformações culturais. É no âmbito universitário que este estudo interdisciplinar encontra autoridade para se projetar aos próprios produtores culturais.
[1] ZANINI, Walter. Arte e História da Arte. Estudos avançados vol. 8 n. 22. São Paulo, set/dez 1994. In www.scielo
[2] BREA, Jose L..Estética, Historia de Arte, Estúdios Visuales, in Estúdios Visuales n.3 Madrid, CENDEAC, enero 2006.
[3] Particularmente esta nomenclatura não fazia parte de meu conhecimento.
[4] ZANINI, Walter. P.489

COMENTÁRIO SEMINÁRIO_14/04

Infelizmente não pude ficar até o fim do seminário; outros trabalhos chamavam meu nome.



Deixando de lado as coisas bacanas da discussão que se referem básica e diretamente aos conteúdos dos textos – todos relevantes para nós –, prefiro comentar sobre a dinâmica proposta, uma vez que tais apontamentos conceituais estão presentes nos respectivos fichamentos.



Confesso que o formato escolhido para a discussão dos textos não me agradou. Ou melhor, o que não me agradou foi a sensação de que pra este formato deveríamos saber completa e profundamente as idéias veiculadas pelos autores. Ora, as coisas não procedem dessa maneira; pelo menos comigo não. Entrar em contato com as idéias do autor é uma coisa – camada 1; dissertá-las com propriedade é outra – camada 2; e propor questionamentos certos e específicos sobre elas é uma terceira coisa – camada 3.



No meu entendimento, estamos todos ainda na primeira camada: um espaço de contato e início de relação, portanto, passível de dúvidas, de questionamentos, de incertezas. E o seminário, da maneira com que foi dinamizado e conduzido, não me pareceu ter espaço para este tipo ocorrência – por mais contraditório que isso possa ser frente a proposta de “perguntas-respostas”.



Sob a minha perspectiva, as perguntas elaboradas deveriam focar-se muito mais na qualidade da dúvida honesta em relação aos textos do que objetivar uma falsa resposta correta dos conceitos. Ou seja, perguntas e repostas deveriam ter sido estruturadas sobre a camada 1, que habilita questões do tipo “do que esse cara tá falando?” e respostas como “não sei”, que por sua vez sugere outro questionamento: “alguém pode me explicar?”. E, assim, me parece que a proposta de discussão passa a ser mais coerente e honesta.