terça-feira, 28 de abril de 2009

Comentário Seminário textos de Aurora Polanco e Marco Rizolli

O presente trabalho tem como objetivo apresentar alguns aspectos relevantes a pesquisa em artes visuais a partir de determinadas relações e discussões realizadas em aula sob o enfoque dos seguintes textos: Otro mundo es posible ¿Qué puede el arte? Escrito por Aurora Polanco (professora da Universidade Complitense de Madrid) e A arte e sua natureza interdisciplinar de Marcos Rizolli (professor Universidade Mackenzie, São Paulo).
O primeiro texto apresenta questões que se mostram muito importantes para pensar a arte e suas formas de recepção. Sob este viés Polanco expõe primeiramente a idéia de que “o mundo-imagem” é uma das formas que temos de compartilhamento social. Nesse sentido a “imagem superfície” empobrecida e amplamente veiculada pelos meios de comunicação, pode ser incorporada pelo campo das artes e pelas pesquisas visuais não como uma busca de desvendamento, ou desvelamento de seu significado essencial ou primeiro, mas como uma forma de incorporação de um tempo diferente, como uma espécie de interrupção em seu fluxo de circulação. Sob este viés Polanco perpassa pelas idéias de Benjamim em relação ao conceito de distração ao expor que percepção e distração podem ser instâncias coabitantes que vem da mesma experiência estética. Benjamin apresenta em seu pensamento dois tipos de distração aquela do entretenimento e a distração produtiva. Nesse sentido a autora expõe que as produções de arte contemporânea quando conseguem trazer a “imagem superfície” um tempo diferente como que uma interrupção no seu fluxo enquanto forma de compartilhamento de uma experiência, passam então a incorporar um tipo de experiência estética que não se dá de forma hierática, mas dialógica. Nesta relação distração e percepção coexistem e propõem uma nova temporalidade partilhada que não nega a imagem superfície, mas parte dela e faz com que seja percebida talvez, de forma mais prolongada. Este tipo de concepção da arte vivenciada a partir de uma experiência estética não hierárquica faz com que se dirija a arte um olhar que possa compreendê-la pelo viés da recepção, ou seja, como compartilhamento de determinadas formas de pensamento.
Percebo o texto de Rizolli como uma espécie de etapa da pesquisa em artes visuais realizada a partir do enfoque de preocupações acerca de suas linguagens e suas possíveis significações. Nesse sentido pode-se pensar em sua forma de abordagem como um método de pesquisa, ou seja, uma parte de um conjunto maior onde diferentes processos de artistas são mapeados. A partir destes mapeamentos o autor percebe as intersecções entre as diversas áreas que acarretam numa espécie de linguagem. Ao mapear essas intersecções as faces ocultas de seus significados passam a emergir e a problematizar questões o que reafirma minha opinião como sendo este texto uma forma de apresentação de uma possibilidade metodológica de pesquisa. Tal compreensão afirma também o fato de que os dois textos se mostram complementares na medida em que um apresenta métodos de mapeamento de compreensão e abordagens acerca das significações presentes nos processos de trabalho enquanto que o outro aponta para a problematização de aspectos que recaem sob suas formas de recepção.
Referências:
RIZOLLI, M. A arte a sua natureza Interdisciplinar. In: 16º Encontro Nacional da ANPAP - Associação Nacional de Pesquisadores em Artes Plásticas, 2007, Florianópolis - SC. Anais do 16º Encontro Nacional da ANPAP, 2007
POLANCO Aurora. Otro mundo es posible ¿Qué puede el arte? Estúdios Visuales V5 enero 2007.

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Comentário sobre 3º Seminário da disciplina de Metodologia em Arte: em discussão Polanco[1] e Rizolli[2]. Por Carolina Rochefort

Comentário sobre 3º Seminário da disciplina de Metodologia em Arte: em discussão Polanco[1] e Rizolli[2]
Por Carolina Rochefort
O presente texto tece um comentário pessoal sobre idéias abordadas nos artigos em discussão durante o 3º seminário da Disciplina de Metodologia em arte da turma 17 do Mestrado do PPGAV[3] da UFRGS.
Os dois textos apontam distintas direções de abordagem, porém conversam quando nota-se que eles tratam a partir da visão do artista. Rizzoli faz uma abordagem semiótica dos processos artísticos de três artistas, Leonardo Da Vinci, Marcel Duchamp e Joseph Beuys, enquanto Polanco questiona as formas de recepção das obras de arte propostas por aqueles que constroem o objeto: o artista.
Alguns cruzamentos se fazem pontuais. Ao discorrer sobre o processo artístico de Marcel Duchamp, Rizolli, nos diz que sua principal questão estava dirigida para a materialidade e a intelectualidade nas artes. O artista parece propor uma abertura do objeto artístico, um fazer ver, um por em movimento a percepção a partir dos ready –mades. Segundo o próprio artista os ready–mades são objetos apreendidos como são e usados diversamente de seus sentidos ou (função) (...). ou ligeiramente transformados para alterar seus significados originais (Duchamp, 1915, depoimento). Esse processo metodológico indicado por Duchamp, no sentido de propor o objeto artístico, é abordado por Polanco quando avalia a experiência estética como modalidade de experiência capaz de restaurar nossa percepção. Capacidade de fazer ver indicada na citação de Didi-Huberman apresentada pela autora: “abrirlas, enriquecerlas, darles definición, tiempo...”. A autora, assim como Duchamp que usa como um das estratégias metodológicas a incorporação da crise do signo-imagem, também indica como competência do artista a utilização da capacidade que a arte tem de transformar em outra coisa um canal, um código, um signo e seus componentes.
Ambos os autores também entrecruzam suas idéias no que se refere ao espaço contido entre espectador e obra, nessa mediação entre objeto e espectador, ou seja, a receptividade da arte. Nesse sentido da receptividade da arte, e, ainda em relação às idéias defendidas por Duchamp, trazidas no texto de Rizolli, destaca-se um depoimento do artista: “O artista faz algo um dia e é reconhecido pela interferência do público, pela intervenção do espectador; desse modo passa mais tarde a posteridade. Esta realidade não pode ser suprimida, porque trata-se de um produto de dois pólos: existe o pólo daquele que faz a obra de arte e o pólo daquele que a contempla. Dou mais importância àquele que olha do que àquele que a faz.” (1967, entrevista a Pierre Cabanne). É notado neste depoimento do artista seu interesse pela receptividade da arte, quanto o público consegue receber seu trabalho, quanto a obra “toca” a percepção do espectador, colocando-o a pensar. Acredito que o conceito de receptividade da arte ou coeficiente artístico que Duchamp escreveu atravessa a concepção de experiência estética abordada por Polanco.
Rizzole nos mostra que cada artista desenvolve uma maneira, uma metodologia de trabalho e de pensar a arte segundo o seu tempo. Talvez a experiência estética, a receptividade da arte dependa de um sensório específico que esteja em relação aos mecanismos e estratégias de contextualização e distribuição da arte, ou seja, uma autonomia estratégica articulada por Polanco Uma autonomia estratégica, diz a autora, é aquela que propõe um intercambio entre arte e o visual, entre a história e antropologia, é uma arte que se propõe em relação a sociedade para construir, a partir de uma atenção prolongada com seu público, uma “historiografia inconsciente”, uma temporalidade anacrônica que “faça ver”.
Assim que, como conduzido o presente comentário inicialmente, a partir do artista podemos pensar nas direções abordadas pelos autores em discussão. Se tomarmos o artista como centro, como ponto de partida percebemos a presença de distintas metodologias, formas particulares de articular pensamentos e idéias em relação à arte, a sociedade usando a autonomia da arte de maneira estratégica. Estratégias para atingir o público, para colocá-lo em “choque”, para pô-lo em movimento, em um estado de experiência sensorial particular.


artista
Receptividade da obra Metodologia de trabalho
público________obra
Experiência estética (sensorial)


[1] POLANCO, Aurora. Outro mundo es posible. Que pude El Arte? Estúdios Visuales, V5, Madrid, CENDEAC, enero 2007.
[2] RIZOLLI, M. A arte a sua natureza Interdisciplinar. In: 16º Encontro Nacional da ANPAP - Associação Nacional de Pesquisadores em Artes Plásticas, 2007, Florianópolis - SC. Anais do 16º Encontro Nacional da ANPAP, 2007.
[3] Programa de Pós-graduação em Artes Visuais