quarta-feira, 1 de abril de 2009

Comentário (novo) seminário Bourdieu

Comentário sobre Seminário (Bourdieu)
O presente texto tece comentários relativos ao 1º Seminário desenvolvido na disciplina de Metodologia da Pesquisa em Arte, turma 17 do curso de Mestrado em Artes Visuais da UFRGS.
O Seminário foi orientado por um grupo de perguntas, as quais foram respondidas e posteriormente debatidas durante a aula, relativas ao texto de título Introdução a uma sociologia reflexiva[1] de Pierre Bourdieu.
O referido texto aborda, de forma geral, a postura do pesquisador, que segundo o autor deve ser racional, realista, orientada para uma eficiência dos processos e procedimentos, dos investimentos e recursos que se dispõe. Não se deve perder a razão, ter os “pés no chão”, e clareza do objeto em questão.
É preciso ter consciência da construção do objeto, por isso é tão importante conhecer o processo de construção de uma pesquisa, desde seu estado embrionário que é um tanto confuso e inseguro. Assim que, aprender a intimidade que acontece “no laboratório/oficina”, a partir da experiência do outro, pode-se desmistificar a idéia romântica da pesquisa, aquela de revelação dos resultados. Para a pesquisa em artes visuais, em especial, acredito ser de extrema importância conhecer os métodos e os procedimentos operacionais que o artista/pesquisador emprega em seu atelier, em sua prática de construção do objeto de pesquisa.
Para a construção do objeto de pesquisa, ou melhor, para a prática científica o autor recomenda que se pratique a dúvida radical que consiste em colocar em questão, em suspenso as certezas e os preconceitos. É romper com o senso comum, tanto o “popular” quanto o “científico”, é colocar-se em dúvida. Praticar uma postura que questione os instrumentos, os procedimentos que o artista/pesquisador irá utilizar pra construir o que quer, podendo questionar, por exemplo, no campo da arte, as doxas da estética, os discursos da arte.
Para Bourdieu a prática científica deve promover a conversão do olhar, a revolução do pensamento, ela deve promover a ruptura epistemológica. Romper com conceitos, métodos, modos de pensamento que tenham aparência de pré-construções. Como na arte foi visto com a mudança de paradigmas da arte academicista e da arte moderna. A ruptura só faz sentido a partir de um reconhecimento do campo em questão e de suas relações com as disciplinas vizinhas, pois ela rompe com questões epistemológicas. A ruptura seria como um salto no escuro amarrado por uma rede de relações.
Já que esta ruptura esta ligada a uma rede de relações pode-se dizer que ela provoca mudanças sociais que serão incorporadas lentamente através de uma modificação do pensamento comum e por conseqüência das estruturas de poder que legitimam o conhecimento. Ciente dos seus limites e processos que se formam as relações, o pesquisador percebe que não há neutralidade nos campos de conhecimento.
Aproveitando as palavras do autor, penso que este seminário, e o texto em especial, foram determinantes para podermos colocar em dúvida nossos projetos e objetos de estudo. A partir deste texto comecei a pensar de forma diferente, como nunca havia pensado antes, minha postura diante a área de pesquisa em artes, e minha postura de artista/pesquisadora. Começo a prática da dúvida radical.
[1] Este texto é o segundo capítulo do livro: BOURDIEU, Pierre. Introdução a uma sociologia reflexiva. in: O poder simbólico, Difel, Lisboa, 1989.

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