quinta-feira, 2 de abril de 2009

Relações Perigosas

Seguindo a sugestão da colega Flavya resolvi colocar um título, bastante elucidativo... Se necessário massacrem, estou aqui pra isso! ;)
Comentário do Seminário: BOURDIEU, Pierre. Introdução a uma sociologia reflexiva. In: O poder simbólico. São Paulo: Difel, 1989.

Segundo o autor, o pesquisador deve ser capaz de apreender a pesquisa como uma atividade racional. Isso implica saber construir seu objeto de pesquisa, relacionando teoria e prática, assim como analisar relacionalmente esse objeto, rompendo com o senso-comum e o pré-construído. A discussão desses e outros conceitos propostos por Bourdieu, como o habitus científico, foi um ponto de partida elucidativo a respeito de um determinado tipo de pesquisa que pensa sobre sua constituição e procedimentos, distinguindo uma pesquisa rígida, incapaz de lidar com um pensamento relacional e crítico, de uma rigorosa, que encara com seriedade seu objeto, adotando critérios claros e praticando a dúvida radical, em que o pesquisador não é mero instrumento do que quer pensar.
De forma muito sucinta e até superficial relaciono o pensamento de Bourdieu com o de outros autores com o intuito de ampliar a discussão de seus conceitos e abrir novas possibilidades de entendimento. Não estou levando em consideração, nesse caso, os históricos e linhas/filiações de pensamento de cada autor, a proposta é de uma simples abertura de “fresta” que permita espiarmos em segredo (ainda muito receosa).
Relacionei a questão da inserção do pesquisador em um meio social com a seguinte citação de Pareyson (1993, p.20)¹: “Como operação própria dos artistas a arte não pode resultar senão da ênfase intencional e programada sobre uma atividade que se acha presente em toda a experiência humana. (...)” Ou seja, na arte, se entendida como produto de determinado enfoque de uma experiência social, o artista não é um ser isolado e isento do meio em que circula, seja de seu campo específico ou não.
A proposta de Boudieu de pensar relacionalmente aparece tratada de modo diferente no pensamento de Morin (1991, p.17-18)², como complexidade, mas podem ser relacionadas. Complexidade como um tecido formado por “partes” distintas, heterogêneas, porém associados de forma inseparável. Grosso modo, como uma colcha de retalhos em que cada parte tem sua existência particular e única, mas cujo sentido de “colcha” resulta da interação de suas partes. Assim é a construção de um “pensamento complexo”, que engloba ações, decisões e o acaso, ou ainda um pensamento que leva em consideração os fenômenos.
Embora o texto e as discussões tenham se voltado mais especificamente para a postura desejável a ser desenvolvida pelo pesquisador, penso que essas “frestas” podem possibilitar visadas a serem exploradas na pesquisa. Considero de extrema importância refletir insistentemente sobre o modo, ou os modos de construir nossos objetos, levando em consideração o pré-construído e nossa inserção em determinados meios; exercer a dúvida radical como exercício de humildade também, afinal, como sabemos o que sabemos, e como sabemos que sabemos? Se entendi algo do nosso primeiro seminário, duvidando, questionando, relacionando de modo crítico o que supomos ser conhecimento.
[¹] PAREYSON, Luigi. Estética: Teoria da formatividade. Trad: Ephrain Ferreira Alves. Petrópolis, Rio de Janeiro: Vozes, 1993.
[²] MORIN, Edgar. Introdução ao Pensamento Complexo. 3. ed. Lisboa: Instituto Piaget, 2001.
Maiores informações sobre este livro podem ser acessadas nessa resenha (que expõe a precariedade de minha argumentação): http://www.ufrgs.br/tramse/argos/edu/2004/05/morin-edgar.html

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