terça-feira, 28 de abril de 2009

Comentário sobre 3º Seminário da disciplina de Metodologia em Arte: em discussão Polanco[1] e Rizolli[2]. Por Carolina Rochefort

Comentário sobre 3º Seminário da disciplina de Metodologia em Arte: em discussão Polanco[1] e Rizolli[2]
Por Carolina Rochefort
O presente texto tece um comentário pessoal sobre idéias abordadas nos artigos em discussão durante o 3º seminário da Disciplina de Metodologia em arte da turma 17 do Mestrado do PPGAV[3] da UFRGS.
Os dois textos apontam distintas direções de abordagem, porém conversam quando nota-se que eles tratam a partir da visão do artista. Rizzoli faz uma abordagem semiótica dos processos artísticos de três artistas, Leonardo Da Vinci, Marcel Duchamp e Joseph Beuys, enquanto Polanco questiona as formas de recepção das obras de arte propostas por aqueles que constroem o objeto: o artista.
Alguns cruzamentos se fazem pontuais. Ao discorrer sobre o processo artístico de Marcel Duchamp, Rizolli, nos diz que sua principal questão estava dirigida para a materialidade e a intelectualidade nas artes. O artista parece propor uma abertura do objeto artístico, um fazer ver, um por em movimento a percepção a partir dos ready –mades. Segundo o próprio artista os ready–mades são objetos apreendidos como são e usados diversamente de seus sentidos ou (função) (...). ou ligeiramente transformados para alterar seus significados originais (Duchamp, 1915, depoimento). Esse processo metodológico indicado por Duchamp, no sentido de propor o objeto artístico, é abordado por Polanco quando avalia a experiência estética como modalidade de experiência capaz de restaurar nossa percepção. Capacidade de fazer ver indicada na citação de Didi-Huberman apresentada pela autora: “abrirlas, enriquecerlas, darles definición, tiempo...”. A autora, assim como Duchamp que usa como um das estratégias metodológicas a incorporação da crise do signo-imagem, também indica como competência do artista a utilização da capacidade que a arte tem de transformar em outra coisa um canal, um código, um signo e seus componentes.
Ambos os autores também entrecruzam suas idéias no que se refere ao espaço contido entre espectador e obra, nessa mediação entre objeto e espectador, ou seja, a receptividade da arte. Nesse sentido da receptividade da arte, e, ainda em relação às idéias defendidas por Duchamp, trazidas no texto de Rizolli, destaca-se um depoimento do artista: “O artista faz algo um dia e é reconhecido pela interferência do público, pela intervenção do espectador; desse modo passa mais tarde a posteridade. Esta realidade não pode ser suprimida, porque trata-se de um produto de dois pólos: existe o pólo daquele que faz a obra de arte e o pólo daquele que a contempla. Dou mais importância àquele que olha do que àquele que a faz.” (1967, entrevista a Pierre Cabanne). É notado neste depoimento do artista seu interesse pela receptividade da arte, quanto o público consegue receber seu trabalho, quanto a obra “toca” a percepção do espectador, colocando-o a pensar. Acredito que o conceito de receptividade da arte ou coeficiente artístico que Duchamp escreveu atravessa a concepção de experiência estética abordada por Polanco.
Rizzole nos mostra que cada artista desenvolve uma maneira, uma metodologia de trabalho e de pensar a arte segundo o seu tempo. Talvez a experiência estética, a receptividade da arte dependa de um sensório específico que esteja em relação aos mecanismos e estratégias de contextualização e distribuição da arte, ou seja, uma autonomia estratégica articulada por Polanco Uma autonomia estratégica, diz a autora, é aquela que propõe um intercambio entre arte e o visual, entre a história e antropologia, é uma arte que se propõe em relação a sociedade para construir, a partir de uma atenção prolongada com seu público, uma “historiografia inconsciente”, uma temporalidade anacrônica que “faça ver”.
Assim que, como conduzido o presente comentário inicialmente, a partir do artista podemos pensar nas direções abordadas pelos autores em discussão. Se tomarmos o artista como centro, como ponto de partida percebemos a presença de distintas metodologias, formas particulares de articular pensamentos e idéias em relação à arte, a sociedade usando a autonomia da arte de maneira estratégica. Estratégias para atingir o público, para colocá-lo em “choque”, para pô-lo em movimento, em um estado de experiência sensorial particular.


artista
Receptividade da obra Metodologia de trabalho
público________obra
Experiência estética (sensorial)


[1] POLANCO, Aurora. Outro mundo es posible. Que pude El Arte? Estúdios Visuales, V5, Madrid, CENDEAC, enero 2007.
[2] RIZOLLI, M. A arte a sua natureza Interdisciplinar. In: 16º Encontro Nacional da ANPAP - Associação Nacional de Pesquisadores em Artes Plásticas, 2007, Florianópolis - SC. Anais do 16º Encontro Nacional da ANPAP, 2007.
[3] Programa de Pós-graduação em Artes Visuais

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